sábado, 1 de agosto de 2015

Instável - Capitulo 2


Estou completamente paralisada, nenhum de meus músculos se move, noto que não estava respirando quando dou uma inspiração tão forte que um som fino sai de minha boca.
Tento manter a calma respirando fundo varias vezes, muito devagar, para não fazer um som.
- Estamos fechados.- Falo ainda de costas para a figura ainda um pouco longe de meu ouvido.
- Não querida… ainda tem 5 minutos para trabalhar. Eu gostaria desse cupcake aí.- A voz diz. E então vejo seu dedo entrar no meu campo de visão, este aponta para o pequeno cupcake de chocolate com cobertura vermelho vivo.
Depois de colocar meus pés no chão estou aterrorizada. Não me quero virar, não me quero virar. Tento ganhar tempo e deslizo a pequena janelinha, tiro o bolinho, coloco no prato e finalmente rodo meu corpo.
- Aqui está.- Falo olhando o chão. Pouso o prato no balcão onde ele, pela minha visão periférica, está sentado a sua frente.
- Obrigado princesa.- Fala ao que parece sorrindo. Segue se uma longa pausa.- Não vai olhar para mim?- Noto no tom de piada na sua voz.- Ontem parecia que não queria parar de olhar e agora se recusa.- Sinto a raiva se espalhar no meu peito. Por alguma razão o seu tom de gozo está pondo os meus nervos em franja. E num momento de coragem, de movimento dirigido por raiva eu olho para o homem a minha frente.
Um grito quase escapa da minha garganta mas o contenho. Ele é assustador, ele é malicioso, ele é … deslumbrante. Não veste mais um casaco preto, desta vez veste uma camisola justa em “v” branca. Como deve ter vindo à chuva nesse caminho inteiro propositado apenas pela minha pessoa, sua camisola está bem colada ao seu corpo. O seu corpo tao bem definido. Consigo ver o seu braço escurecer à medida que minha visão desce ate pararem em seus dedos que estão cruzados. Tatuagens, várias tatuagens enchendo seus braços.
Por ultimo, olho para o seu rosto… meu deus seu rosto… agora bem iluminado consigo ver a beleza que dele emana. Vejo neste momento que seus olhos não são negros mas que contem uma cor de avelã quase impercetível. A pele pálida faz realçar os seus lábios, cheios e rosados, tao perfeitos que parecem ser um feito de escultor. Seu cabelo é escuro por estar molhado e cola na sua testa.
- Gostando do que vê? – Sua voz me faz acordar. Abano a cabeça enquanto meu pequeno resto de raiva e coragem desaparece dando lugar ao medo que se expande pelo meu corpo inteiro sem intenção de sair.
Fixo meus olhos nos seus que já há muito me olham. Não sei quanto tempo ficamos assim, tentando perceber o que cada um esta pensando, tentando nos conhecer através do olhar, tentando percecionar qual será o próximo movimento um do outro.
Desvio o olhar quando o mesmo sorriso malicioso na noite passada aparece no seu rosto. Reparo que seus olhos me analisam, baixando e subindo o seu olhar intimidante pelo meu corpo. Seus dentes agarram a carne do lábio inferior. – É que eu estou.- Por alguma razão sinto minhas bochechas queimarem e por isso estou gritando em pensamento comigo mesma. Zangada com meu coração tímido e desesperado por aceitação masculina.
Sinto minha boca secar aos poucos, sinto os meus lábios ficarem enrugados e esfolados. Minhas têmporas se mexem conforme o batimento de meu coração. O medo inunda me, podia ser um cliente qualquer mas… de alguma forma estranha ele não o é. É um homem assustador, um homem cujo pensamento consigo ler. Ele quer aterrorizar me, sugar a alma de meu corpo, me fazer miserável.
- O que você quer de mim? – Pergunto. Minha voz treme denunciando o medo que me enche completamente.
Seus olhos encaram os meus, seu rosto serio como se tivesse dito algo que não devia me faz sentir culpada e envergonhada sem razão. Minha cabeça baixa no mesmo instante em que o seu olhar repreendedor me atinge.
- Porquê? Não esta gostando da companhia? – Pergunta agora irritado. Boa, agora o ofendi, ele vai matar-me.
Continuo imóvel, o medo me paralisa. Imploro mentalmente para que sua figura desapareça e nunca mais volte. Ouço o levantar, o som do banco ranger enquanto seu corpo se põe em pé me faz dar um pulo tao grande que temo cair no chão. Mantenho-me no mesmo lugar mesmo sabendo que a cada segundo que passa ele esta mais perto de mim.
Sei que ele esta a minha frente, tao parado quanto eu, sinto seu cheiro masculino, sedutor e suave. Quase me deixo levar pelo seu perfume até sentir seu dedo no meu queixo, fazendo força para que meus olhos encarassem os seus. E é isso que acontece, logo meus olhos verdes se encontram com os seus que estão tao escuros que qualquer pessoa os confundia com negro.
- Tem algum problema com o facto de estar aqui? Quer que vá embora? – Fala com palavras calmas e lentas. A suavidade na sua voz faz meu coração bater mais forte, como se isso fosse possível. Quero dizer que sim, claro que há problema em ele estar aqui, claro que quero que vá embora mas aquele olhar, aquele olhar desiludido e voz triste e pedinte tem algum efeito em mim.
Algo se intromete entre meu medo. Tudo na sua expressão parece sincero, ele quer mais, mais de mim, acho eu. Sua cabeça baixa encarando o chão mostra a sua tristeza. Num movimento de muita lentidão ele olha para mim, de olhos brilhantes.- Eu não quero ir embora. Queria ficar aqui, falando com você.- Um pequeno sorriso se forma, ele esta envergonhado?
- E… eu tenho que ir para casa.- Seu sorriso desvanece, sua expressão deu lugar a raiva pura.- Não é que não queira estar com você… é que… estou muito cansada...- As palavras que saem da minha boca soam inexplicavelmente normais e firmes. Como se eu estivesse falando com um amigo de longa data, mas em vez disso estou falando com um homem que não conheço que, tanto me assusta como me derrete o coração. E outra vez, seu rosto se acalma e seus ombros largos baixam num suspiro aliviado. Ele é muito instável.
Suas mãos baixadas avançam sobre mim. Sinto seus dedos grossos agarrarem minha cintura, nem muito forte nem muito fraco. Os carinhos de seu polegar fazem minha pele arrepiar por completo, tento conter um suspiro mas é tarde demais. Vejo um sorriso de satisfação estampado na sua face. O desconhecido dá um passo em frente juntando nossas testas. Ele olhando para baixo, eu olhando para cima. Meu peito contra o seu. Pernas bambas, cabeça latejando e barriga revirando com a sensação forte de suas mãos na minha cintura.
Deteto um batimento acelerado mas não consigo perceber se é o dele ou o meu, nossas respirações se misturam, são quentes e batem no meu pescoço entrando num caminho descendente que só para no meu ventre.
- Você ainda não me disse qual e o seu nome.- Ele sussurra bem perto de meus lábios que vibram com a gravidade de sua voz.- Apesar de eu já o saber.- O medo tenta esmurrar a jaula que fora fechada pelos sentimentos confusos que estou sentindo agora. Mas não consegue porque eu não o permito, fechando-o la de novo.
- Grace. E o seu? – O som que sai de minha boca sai demasiado aguda denunciando meu nervosismo com uma pitada de entusiasmo.
- Justin.

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