terça-feira, 28 de julho de 2015

O Vulto - Capitulo 1

 
    - Não vê que seu tempo esta acabando? - Grita mais uma vez. Seu braço aperta o meu com tanta força que quando o larga sua mão fica marcada na minha pele. Abano com a cabeça mas na realidade não entendo. Só não quero o seu toque violento mais uma vez. Por hoje chega. E ainda me sinto feliz por só ter a sua presença amanhã.
Isso só torna a situação mais triste.
Suspiro baixo enquanto vejo sua figura elegante sair pelo quarto. Não faria muito barulho, isso poderia fazê lo se relembrar de mim e aí o sofrimento voltaria. No final acabo deitada no chão, com as coxas prensando minha barriga que implora por alimento. Abro minha mão e escondo minha cara com vergonha de mim mesma. A raiva parece querer sair pelo meu peito, sinto minha cara queimar.
Na minha conta se passavam cinco meses desde que estou aqui fechada. Claro que as contas não são exatas visto que não vejo um relógio à tempos e tempos, mas prefiro não saber porque se meu corpo soubesse apercebia se que já estava morto de desidratação, fome, violência.
Exaustão. É essa a palavra certa para o meu estado. Meu braço dói, minhas pernas tremem, meu coração cada vez se desmancha mais, meu corpo se vai deteriorando como a um defunto. E, sem tirar ou acrescentar, é isso que sou, apenas penso, mas continuo um objeto nas suas mãos. Todos os dias, um objeto, jogado, partido, remendado, jogado, partido e remendado de novo. Foi um caminho que eu não escolhi, que se conseguisse voltar atrás não o faria. Se não o tivesse feito não me tinha apaixonado por um ninfomaníaco desprezível, desumano, criminoso, violento que me tornou num monstro, que me moldou a sua imagem, que me faz odiar a pessoa que sou mais do que qualquer pessoa e neste momento, muitas pessoas me odeiam.
Mas eu não queria ser esta pessoa, fui forçada a ser esta criatura que já não posso chamar de Grace. Não sou mais aquela rapariga inocente, que sonha com contos e fadas, uma cega apaixonada pelo amor. Virei o contrário.
Amor? É um sofrimento que se prolonga dia a dia, mês a mês, ano a ano até que finalmente, depois de se esquecer um amor aparece outro ao virar na esquina, e o pesadelo continua.
Se estou apaixonada por aquele abusador? Estou sim. Sabe se lá porque continua este amor sem limites. Mas nem sempre sofri, houve alturas que a nossa paixão, a nossa faísca eram palpáveis. Uns tempos em que senti que meu amor estava a ser correspondido, em que senti que alguém me dava valor e não simplesmente brincava com meus sentimentos.

5 Meses atrás
Raios de sol começam a entrar pelas frinchas da janela. Meus olhos queimam ao início mas logo se habituam e a sensação passa de desconfortável a reconfortante. Estou deitada na grande cama que partilho com meu irmão, Harry. O calor do sol começa a ser demasiado o que me faz atirar com aqueles lençóis para trás. Quando ouço o resmungar de Harry levo meus olhos aos seus que me estão observando com muito esforço. Seus caracóis estão espalhados pela almofada e como acaba de acordar, sua pele esta mais pálida o que me permite reparar mais nos grandes sacos escuros por baixo de seus olhos cor de esmeralda. Coitado, todos os meses arranjando um lugar novo para passar a noite, para que não nos encontrem, a pressão de ter que cuidar da irmã mais nova e ao mesmo tempo ter que ganhar dinheiro para nos sustentar deve acabar com o seu corpo aparentemente forte mas frágil de exaustão.
- Bom dia.- Diz ele forçando o sorriso. Sua voz esta mais rouca que o habitual. Ele abre a boca suspirando e se senta na cama tentando forçar sua visão pela janela através da luz que cega vinda do sol. O seu rosto que aparenta estar feliz, motivado ate, mostra o seu cansaço disfarçado quando seus os olhos caem em mim.- Temos mesmo que ir? – Pergunta sabendo muito bem qual a resposta. Penso no início que aquilo é apenas uma piada mas pela seriedade de sua face concluo que a pergunta de piada não tem nada.
- Você sabe que tem que ser Harry. – Falo tocando seu ombro.- Não podemos ser preguiçosos, há que trabalhar para sobreviver certo? – Falo o que sempre falo, já memorizado. Ele sabe que essa e a resposta num entanto parece que tem que o ouvir, todas as manhas para ter força para continuar e aguentar o dia inteiro.
Mas hoje é diferente. Ele não me da um sorriso como resposta, em vez disso, vejo seus olhos ficarem vermelhos e lacrimejando.
- Pronto… Eu ligo para o escritório e digo que você esta doente… vou ter é que ficar mais umas horas no café…
- Mas Grace…
- Nem mas nem meio mas! Está decidido, hoje e o seu dia de folga sim? – Ele parece ter um conflito consigo mesmo mas seu corpo acaba por relaxar e sua cabeça assentindo.
- É só desta vez… Mas eu prometo que vou compensar você! – Fala me dando um beijo na testa.
- Combinado.- Sussurro antes de me levantar e me dirigir ao banheiro. Quando me encontro debaixo do chuveiro dou um suspiro alto. Aquele momento de humildade em frente a meu irmão acaba de se esgotar. Ambos trabalhamos, ambos chegamos exaustos a casa, ambos lutamos para que consigamos por comida na mesa e ter uma cama onde dormir. Então porque e que ele merece um dia de descanso e eu não?
Estamos na mesma situação, estamos ambos cansados de trabalhar, de novas cidades, de novas pessoas, de novos sítios, de fugir.
Quero parar. Quero assentar. Quero finalmente algo que possa chamar de meu, quero amar, quero um emprego fixo, quero criar uma vida, quero uma família, filhos, netos, amor!
Mas então, a compaixão e o amor que sinto pelo meu irmão vem a tona e sorrio ao perceber que o que fiz, que mesmo que requeira mais esforço, foi uma boa ação.
E sei que ele faria o mesmo por mim mesmo sabendo que eu nunca deixaria de trabalhar por um dia. O saber que mais 5 minutos da cama me faz perder dinheiro me faz sentir culpada, então imagino se perdesse horas e horas de trabalho que equivalem a comida e a razoavelmente boa vida que eu e ele vivemos.
Por isso quando eu saio do banheiro já pronta e o ouço ressonar, o deixo dormir, ligo para o seu trabalho e saio de casa, não antes de beijar seus caracóis. Meu caminho ate ao café demora pelo menos 15 minutos a pé e Harry é o único que sabe conduzir por isso a minha obrigação e andar ate la. Mas não me oponho, o dia agradável e boa disposição, deixa me com mais vontade de apreciar o que me rodeia do que se fosse de carro.
Quando vejo a grande placa azul bebe do café de Mary sorrio. Mais um dia de trabalho, mais um dia para acrescentar aos outros dias solitários e cansativos. Empurro a porta ouvindo a pequena sineta tilintar, ao início o barulho fazia me dar em maluca… agora tenho que fazer um esforço para a ouvir.
- Bom dia Mary.- Falo sorrindo ao ver uns caracóis de uma mistura de cinzento com branco espreitarem pelo balcão.
Suas costas endireitam se com dificuldade, então vejo sua cara enrugada mas sempre com um sorriso radiante.
- Bom dia querida. Pronta para abrir? – Fala andando tao apressada que quando passa por mim para deixar alguns menus pela mesa sinto meu cabelo acompanhar seu caminho. Aperto meu avental azul à cintura com o nome “Mary’s” gravado em branco. Assinto com a cabeça e me preparo para receber os clientes que sempre chegam as 7 em ponto.
O dia passa a correr. Deixo-me ficar mais horas das que costumo ficar e por isso Mary me dá a chave para fechar tudo quando sair.
Estou com os olhos postos no relógio, são 11:55 p.m. e ninguém aparece há mais de meia hora. Meu olhar dirige se à janela à direita da porta. A noite esta mais escura do que o habitual, chove e sei que a qualquer momento começará a trovejar. Concluo então que vou fechar a loja quando o primeiro clarão invade o café e faz as luzes falhar por um milésimo de segundo. E aí o vejo. Do outro lado do café, um vulto preto me observa, como um vigilante, como se eu fosse um animal num zoo. Meu corpo que estava com um leve frio começa a aquecer. Meu sangue corre mais rápido, meu coração acelera, minha cabeça é inundada com mensagens que me dizem para fugir, minhas pernas tremem e minhas mãos estão encharcadas de suor. Os meus olhos fixos no chão, completamente aterrorizada, decidem ganhar coragem para enfrentar o vulto. E é aí, quando meus olhos o encaram, que o segundo clarão se dá e eu o vejo. O vejo na realidade, vestindo um casaco de um fino tecido preto. A única parte de carne que vejo e o seu rosto. E essa e a única parte que desejava não poder ver.
Uns olhos que mesmo de longa distancia, consigo perceber que são mais pretos que a noite. Sua pele limpa com pequenas gotas escorrendo apressadas de sua testa ate seu queixo levando seu caminho ate ao chão. O sorriso é o pior. Não é um sorriso meigo como o sorriso de Mary, não é um sorriso forçado como os de Harry quando me tenta reconfortar mesmo estando a sofrer, é um sorriso genuíno cheio, completamente cheio de más intenções, de maldade. Um sorriso psicopata, malicioso, um sorriso que qualquer pessoa que ame matar por prazer deve ter antes de atacar sua vítima.
- Vai embora.- Sussurro. Não sei se para mim ou para o homem apesar de saber que o estou olhando nos olhos mesmo através da escuridão. E quando penso que estou quase a correr para a porta e tranca la ou fugir por ela sem que ele me apanhasse o terceiro flash se dá. Seu corpo de aparência de sombra desaparece. Por momentos penso que ele se esta a dirigir à porta mas apos segundos torturantes de imobilidade decido que esse homem viu que eu não valia a pena matar, decidiu que eu não merecia, ou então simplesmente decidiu que o dia, não era hoje.
Abro minha mão bem aberta com dificuldade, só agora percebo que as apertava com tanta força que pareciam destreinadas na sua função de abrir.
Quando me dirijo à porta e levanto a mão para a abrir e reparo que esta treme. Mesmo que tente e que faça um esforço para me acalmar não a consigo abrir.
Sinto me aterrorizada, como nunca me tinha sentido, sinto que aquela figura vai estar lá quando abrir a porta. Olho em frente para a porta fechada como se olhasse através dela para o homem. Quando noto que meu corpo esta a andar de volta ao balcão concluo que não vou a lado nenhum, que simplesmente não tenho coragem o suficiente para enfrentar a noite. Pego em varias mantas e as coloco no lado de dentro do balcão, e me deito.
Minha mente vagueia na figura que me observava. Pergunto me pelas razoes, qual a razão de me assustar, qual a razão de não agir? Sou o sonho de um assassino: sozinha, com a porta aberta, sem testemunhas. Porque não agiu então?
Cada pelo de meu corpo se põe em pé quando a sua imagem, bem atrás de mim me passa pela cabeça. Tem calma Grace, a porta esta fechada a chave e se ele quisesse matar você, já teria feito. E é exatamente com esse pensamento, um restinho de alívio de segurança, que o sono consegue atacar no momento certo me fazendo adormecer.
Acordo com batidas incessantes na janela onde o episódio da sombra se passou. Me levanto num pulo suspirando alto e estalando as costas de seguida. Quando vejo Mary admirada com a minha cara desvio os olhos dos seus e destranco a porta.
- O que se passa querida? Parece que acordou agora.- Fala andando apressada ate ao balcão. Quando vê as mantas no chão me olha assustado.- Grace…
Eu a interrompo com um longo “Ahh”, sem saber se devo contar o que se passou ou simplesmente mentir. Mas se lhe contasse o que ela faria com a informação? O café tem que continuar aberto, o homem pode voltar a qualquer momento Mary não podia fazer nada quanto a isso.
- Viu essa tempestade Mary? Ainda tinha medo que algum trovão me acertasse! – Sua expressão preocupada passa a uma mistura de dúvida e carinho.
- Fez bem então. Não queria que acontecesse algo com você àquela hora e com aquele tempo.- Diz acabando a frase com um sorriso um pouco forçado. Assinto com a cabeça, amarro o cabelo descontrolado e me preparo para trabalhar mais um dia.
Como eu gostava de simplesmente ficar na cama o dia inteiro, aproveitando o calor dos cobertores, sentindo me bem por não estar la fora com o tempo infeliz que está. Isso me lembra… Harry! Pego imediatamente no celular, tenho dezenas de mensagens e chamadas que não atendi. Aperto o único numero que tenho na lista e espero para ouvir sua voz.
- Grace! Ah meu deus. Você esta bem? Aconteceu alguma coisa? Viu esse tempo? E você não chegava …
- Harry! – E de repente sua voz se cala.- Eu estou bem. Estava um tempo horrível e eu decidi ficar aqui ate de manha. Como foi seu dia de folga? – Faço a pergunta agora com mais calma e com mais carinho na voz na tentativa de desviar o assunto.
- E não se lembrou de avisar seu irmão? Você nunca se esquece dessas coisas Grace, o que aconteceu? – Pondero. Eu nunca menti a meu irmão, valeria a pena fazê-lo agora? Não valia a pena deixa-lo preocupado com o que pode muito bem ser um homem bêbado ou drogado procurando por bebida e, quando não viu, se foi. Concluo que a situação não e assim tão importante como me pareceu na minha cabeça.- Me desculpe, eu estava exausta e o tempo estava horrível. Acabei por ficar por aqui.- Dou um sorriso ao perceber que soou firme. Harry dá um suspiro e se despede de mim. Mantenho o sorriso na cara e me preparo para mais um dia. Este passa muito rápido, sexta-feira é sempre um dia cheio de trabalho e no seu final acabo com o meu corpo dorido mas, com mais dinheiro na caixa para levar para casa.
- Grace, hoje pode ficar ate mais tarde outra vez? – Assinto com um sorriso mas na minha mente estou abanando a minha cabeça negativamente. Receio que o homem volte, receio a noite, receio a tempestade que não cessa, mas não tenho escolha. O resto da noite é ainda mais atarefada, mas a clientela se vai toda embora antes das 11:30 p.m. Ouço o ultimo tilintar do pequeno sino tocar e me sento em cima do balcão suspirando alto. Acabou, por hoje. Olho para o relógio, são 11:55 p.m., sinto um arrepio que me corrompe ate aos ossos. Fixo minha visão no vidro em que o homem estava plantado me olhando. Quando sinto meu coração acelerar de medo da lembrança viro minhas pernas e em vês de ficar virada para a porta fico olhando os bolos de Mary polvilhados com açúcares de todas as cores, enchidos com geleias deliciosas, cobertos com cremes colocados perfeitamente em espiral. De alguma forma a imagem enche meu coração com uma pequena porção de alegria.
Estou pronta para saltar do balcão e ir para casa quando ouço a sineta.
- Uma empregada não devia estar aí sentada no horário de trabalho.- Ouço uma voz grave, tão grave que me enche de arrepios.
Meu coração gela… e de alguma forma… eu sei que é ele.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Fade Into Darkness - Sinopse


No canto do meu quarto, encolhida, ouvia os barulhos avassaladores no andar de baixo. 
Ouvia as chicotadas que ele lhe dava, os nomes horrendos que ele lhe chamava. Estava rezando para que nao viesse ao meu quarto. Já algum tempo que ele nao me vinha "visitar". 
Segundos se passaram quando uns pés pesados subiram as escadas com certeza em direcçao ao meu quarto. Acordei do transe e tentei correr para debaixo da cama mas sua mao agarrou meu pe e me puxou. 

Heart Strings - Sinopse



Vida complicada, em busca constante de esconderijo,fugindo do que os persegue como dois bichos assustados. Ela e ele, irmão e irmã, lutando para a sobrevivência apenas pela sobrevivência. Sem uma vida a que possam chamar de vida, com um futuro indefinido. 
E mesmo com essa vida atribulada, ele aparece. 
Assustador, calculista, instável, cheio de intenções tudo menos boas e a primeira coisa que faz é confundir e virar ao contrário a vida já destruída desta rapariga. E o mais espantoso disso tudo é o amor que cresce entre eles. Ele não esta interessado no seu passado, esta apenas preocupado em dar cabo de um futuro muito seu. Ela aprende a amar o jeito que a amedronta a cada segundo que passa com ele. 
Um par tão diferente mas ao mesmo tempo tão igual. Um par de corações interligados.